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  • Foto do escritorDaniel Duncan

COMO USAR A IRONIA NA ESCRITA DE ROTEIROS?



O QUE É IRONIA?


A definição de ironia é uma situação onde existe um contraste entre expectativa e realidade.


É a diferença entre o que algo parece significar e seu significado de fato. Através da ironia, ideias são intencionalmente escolhidas e usadas para indicar um significado diferente do literal. Assim, a ironia surge quando a verdade de uma situação é o oposto do que se espera.


Para escritores, a ironia é uma ferramenta narrativa poderosa capaz de adicionar profundidade e nuance à trama. Para roteiristas, a ironia está presente em todas as etapas da criação de um roteiro, criando humor, debates e até mesmo ensinando lições valiosas aos personagens. Portanto, quais são as principais formas de ironia e como utilizá-las na construção de histórias?


IRONIA VERBAL


A ironia verbal é quando o interlocutor diz algo que é o oposto do que ele quer dizer. É quando o personagem diz uma coisa, mas significa outra.


Se um adolescente derruba um prato de sopa em um refeitório lotado e reage dizendo “ótimo”, ele está sendo irônico, já que essa fala expressa um sentimento positivo para um evento negativo. Dessa forma, a ironia verbal pode ser usada para trazer alguma leviandade em momentos que de outra forma seriam vistos como ruins.


Frequentemente usada em filmes e séries, a ironia verbal é uma boa forma de adicionar humor aos diálogos e desenvolver as atitudes de um personagem nas mais diferentes situações. Um exemplo é a cena do filme A Família Addams 2, de 1993, onde a personagem Wednesday Addams se vê obrigada a dizer coisas que ela jamais diria apenas para escapar de um castigo:



IRONIA SITUACIONAL


A ironia situacional ocorre quando existe um contraste entre as expectativas do público e o que acontece de fato. É quando o público espera por algo, mas a realidade se mostra inesperada.


Monstros S.A. é um bom exemplo de situação irônica, no sentido de que é irônico imaginar monstros do armário como criaturas gentis que têm medo de crianças. O público espera o contrário.


A série Barry também carrega uma situação irônica, ao apresentar um assassino de aluguel com uma sensibilidade incomum para as artes.


A ironia situacional pode ser usada para criar humor, ou até mesmo para oferecer reviravoltas inesperadas na trama, como em Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, quando Vincent Vega, um assassino profissional, mata acidentalmente um cara da fama mais amadora possível:


IRONIA DRAMÁTICA


Se na ironia situacional, o público descobre tudo com os personagens, na ironia dramática, o público tem mais informações que a maioria dos personagens de uma história.


Essa é uma ferramenta poderosa de enredo que fornece informações apenas para audiência, criando assim suspense, surpresas e intrigas no decorrer da história. Os personagens navegam através de uma trama com público sabendo que algo se esconde na superfície.


Em O Mentiroso, clássico de 1997, sabemos que o personagem Fletcher não pode mentir durante um dia inteiro, enquanto os demais personagens desconhecem essa condição, o que acaba criando momentos divertidamente constrangedores.


As chamadas "comédias de erros” brincam precisamente com esse recurso. É o que acontece nas temporadas da série Fargo, de Noah Hawley, já que apenas a audiência tem conhecimento total dos verdadeiros eventos da história:


RESUMINDO


A ironia verbal ocorre quando alguém diz algo totalmente oposto ao que gostaria de dizer.


A ironia situacional ocorre quando o que realmente acontece não é o que se espera que aconteça, dadas as informações compartilhadas até ali.


A ironia dramática ocorre quando o público está ciente de algo que os personagens não estão.


A ironia verbal pode ser usada nos diálogos. A ironia situacional serve ao conceito e história. E ironia dramática pode ser usada como um dispositivo de postagem na estrutura de seus roteiros. No geral, a ironia - nas suas mais variadas formas - fornece aos escritores estratégias interessantes para criar humor, surpresas e momentos inesquecíveis.


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Texto escrito por Daniel Duncan

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